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Hidroponia: exemplo de economia de água na agricultura  

 

A hidroponia é a técnica de cultivar plantas sem solo, onde as raízes recebem uma solução nutritiva balanceada que contém água e todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento da planta. Nesse método, as raízes podem estar suspensas em meio liquido (NFT) ou apoiadas em substrato inerte (areia lavada).  Fonte: Wikipédia

 

Pode não aparentar, mas a história da hidroponia no Brasil é recente. O primeiro relato das produções utilizando o método que promete trazer grande economia de água na agricultura apareceu por volta da década de 80 e mesmo assim, só passou a ser estudado nos últimos anos.

 

Engenheira agronômica e doutora pela Universidade de São Paulo – ESALQ, Simone da Costa Mello e explica que a hidroponia não havia se desenvolvido na região por falta de conhecimento dos produtores pelo sistema. “Muitos agricultores que investiram nas plantações, abandonaram. O principal motivo era a falta de conhecimento técnico, apoio do governo e pelo custo inicial da estufa, que se torna relativamente cara se comparada com o campo”, explica.

 

Recentemente, a hidroponia é estudado e adotado por vários agricultores, justamente pelas vantagens que oferece, entre eles, o cultivo protegido de chuvas, a possível manipulação das condições ambientais, como por exemplo, disponibilização dos nutrientes específicos para o desenvolvimento das hortaliças.

 

O crescimento deste método está atrelado ao aumento do custo da terra em várias regiões do País, além de uma grande evasão da mão de obra. Mello relata que o fator crítico e primordial que chamou atenção dos agricultores foi a crise hídrica enfrentada em 2014, “as precipitações que aconteceram no final do ano passado e no inicio desse ano não foram suficientes para reabastecer nossos mananciais fornecedores de água, tanto no consumo urbano e industrial, como principalmente para o grande consumo na agricultura”.

 

Levando em consideração a procura dos agricultores por essa forma de cultura, a hidroponia proporciona uma economia de até 70% do volume gasto em sistemas convencionais de irrigação que mantém como método principal, por aspersão. Além disso, o sistema hidropônico não apresenta uma alta dosagem de poluição ao meio ambiente, o que acontece, por exemplo, no campo pela alta dosagem de fertilizantes aplicados tanto em plantio quanto nas coberturas. “O uso de herbicidas para controle de plantas daninhas também é um fator prejudicial para o meio ambiente. Entra também o uso de pesticida para o controle de patógenos de solo – que na sua maioria não são eficientes, principalmente no caso de doenças provocadas por bactérias”, explica.

O SISTEMA HIDROPÔNICO

Fonte: hydor.eng.br

O sistema hidropônico usa a água como substrato para o desenvolvimento de hortaliças. A maioria das plantas utiliza o solo como meio natural para desenvolvimento das raízes, obtendo o suporte, fonte de água, ar e minerais necessários para um bom crescimento.

 

Portanto, a hidroponia oferece a essas plantas as técnicas de cultivo sem a presença do solo, utilizando outro substrato, seja ele natural ou artificial, sólido ou líquido, oferecendo as mesmas condições do solo para um perfeito desenvolvimento da parte radicular.

 

Para a plantação, existem os perfis feitos de materiais rígidos e impermeáveis ou até mesmo canos (em uma estufa mais simples), geradores de energia, reservatórios de água e bombas para irrigar toda a plantação que permanecem em uma estufa climatizada.

 

Para realizar a plantação, existem três tipos de cultivo: Sistema NFT (Nutrient film technique) ou técnica do fluxo laminar de nutrientes, Sistema DFT (Desp film technique) ou cultivo na água ou “floating” e Sistema com substratos.

 

 

 

Entre eles, o mais utilizado é o Sistema NFT, que é composto de um reservatório de solução nutritiva, um sistema de bombeamento, e um sistema de retorno ao tanque. Nele a solução nutritiva é bombeada pelos canais e volta por gravidade ao reservatório formando uma fina lâmina de solução que irriga as raízes.  

 

Esse sistema desenvolve a técnica para que as plantas cresçam tendo seu sistema radicular dentro dos perfis onde circulará uma solução nutritiva (água + nutrientes).

 

Segundo o pesquisador de nutrição mineral do solo, Eurípedes Malavolta, solução nutritiva consiste na mistura de fertilizantes que é armazenada em um reservatório, onde é bombeada para a parte superior do leito de cultivo (bancada feita de material rígido ou PVC) passando pelos canais e recolhida na parte inferor do leito retornando ao reservatório.

 

Os compostos que sintetizam a solução estão entre o Nitrato de Potássio, Nitrato de Sódio e Potássio (conhecido como Salitre do Chile Potássio), Nitrato de Amônio, Nitrato de Cálcio, Nitrocálcio, Fosfato Monoamônico (MAP), Sulfato Simples, Superfosfato Triplo, Fosfato de Potássio, Cloreto de Potássio, Sulfato de Potássio, Sulfato de Potássio e Magnésio e Sulfato de Magnésio.

 

ALIMENTOS PRODUZIDOS

 

Entre os tipos de alimentos provenientes do campo, é possível produzir desde as hortaliças, flores, plantas condimentares e plantas medicinais. Porém, entre eles, as hortaliças folhosas são a melhor aposta.

 

“Essa escolha está ligada ao fato de apresentarem um ciclo rápido e não existir a necessidade de uma infraestrutura mais resistente para suportar o peso das plantas, como acontece com as hortaliças de frutos, tomates, pepinos e pimentões”, comenta Mello.

 

A doutora também relata que é possível desenvolver as hortaliças de frutos, mas, a predominância no Brasil está nas folhagens. O carro chefe ainda é a alface, em seguida a rúcula, acompanhada pelo agrião e outras plantas que estão garantindo espaço como manjericão, salsa, salsinha, além do coentro, hortelã e espinafre.

 

UMA GAMA DE VANTAGENS

 

O grande atrativo da hidroponia está na economia de água, porém esse não é o único e nem o ponto principal que chama atenção nos resultados finais das plantações. Para os agricultores, com esse sistema, o ciclo de desenvolvimento se reduz e resulta um maior número de ciclos por ano em relação ao campo, aumentando a produtividade e o lucro.

 

Essa redução acontece em função da disponibilidade de todos os nutrientes necessários para uma produção estarem disponível na solução nutritiva, acelerando o crescimento dessas hortaliças.

Todo esse processo permite uma produção de qualidade, com uma menor disponibilidade de mão de obra, “totalmente oposto ao campo, justamente porque você elimina uma série de etapas preliminares ao plantio, como: preparo de solo, calagem, adubação de base e o controle de ervas daninhas”.

 

Em relação ao produto final oferecido pela hidroponia, Mello relata que é possível adquirir uma hortaliça mais limpa, que não dispõe da necessidade de lavagem das folhosas na hora do consumo, por não existir contato das folhas com a terra, como acontece no campo.

 

“O agricultor não é o único que garante pontos extremamente positivos com o método. Os consumidores também estão procurando os produtos hidropônicos pela sua durabilidade e sabor”, ressalta Mello, explicando que essa durabilidade acontece pela não remoção das raízes para a venda das hortaliças, desacelerando a perda de água e consequentemente a conservação das folhagens.

 

Como todo sistema, a hidroponia apresenta pontos críticos, como a necessidade de energia elétrica para manter o sistema ativo. Esse sistema elétrico interfere diretamente na distribuição de água pelos dutos onde as plantas são armazenadas, além de controlar um sistema de refrigeração da água para que não haja “queimaduras” nas raízes das plantas. “O agricultor não pode correr o risco de permanecer sem energia elétrica por muitas horas, principalmente em um clima muito quente, podendo controlar a temperatura das hortaliças e manter um produto de qualidade o ano inteiro”, comenta Mello, exemplificando que durante o período de verão, os produtos vindos do campo não seguram a mesma qualidade.

 

 

 

 

 

A HIDROPONIA E A SAÚDE HUMANA

 

Mello ressalta que os produtores rurais, atualmente, têm acesso a recursos do governo e podem financiar as instalações das estruturas. O custo de instalação varia de R$ 40 a R$ 80 por m², englobando as estufas totalmente climatizadas e tecnologias avançadas. “O produtor pode cultivar a partir de estruturas simples, onde gasta aproximadamente R$50 por m² e pode obter ajuda do governo com os créditos agrícolas capazes de financiar estruturas com um ambiente mais protegido”, comenta.

O AGRICULTOR HIDROPÔNICO

A produção hidropônica não necessita de grandes áreas e nem precisa estar no campo para ser produzida. Atualmente já é possível encontrar estufas em áreas rurais, como o caso do casal Edvaldo e Raquel Ragonha, da cidade de Limeira, que investiram em uma estufa e produzem três tipos de alface, couve, rúcula e outras hortaliças pela hidroponia em uma estufa de 250 m².

 

Durante o processo da hidroponia, é possível adquirir ou preparar a muda, que necessita permanecer 21 dias em perfis separados, nomeadas como “berçário”. “Para essa etapa, é preciso ter uma esponja fenólica, que faz o “papel” da terra até existir a germinação da semente e aparecimento das raízes”, explica.

Essa esponja precisa ser lavada para a remoção da acidez e recebimento das sementes, que germinarão em três dias permanecendo em uma estufa sem a presença de luz. O agricultor está aderindo à tática de comprar a muda pronta para aumentar a produtividade, “nós vamos economizar esses 21 dias de berçário e aumentar nossa produção em até 30%”.

 

Após a passagem do berçário para o canteiro onde ela terminará o desenvolvimento, Ragonha disponibiliza a solução nutritiva (feita com o acompanhamento de biólogos e engenheiros), e executa uma correção diária com o que a planta já consumiu. “Por ser um ambiente controlado, a planta se torna mais limpa, você precisa estar sempre acompanhando e com isso, é possível identificar pelas folhosas o que a planta precisa consumir a partir da solução nutritiva”, comenta.

 

 - O processo da água

 

Para a irrigação dos canteiros, Ragonha utiliza a água disponibilizada pela cidade de Limeira, que já chega tratada ao reservatório com alguns componentes químicos. Durante 15 dias é necessário fazer o descarte da água armazenada nos reservatórios. Ele explica que, na estufa de 250m², para regar o canteiro de alface, existe um reservatório de três mil litros, já no a canteiro de rúcula, 500 litros. “Trocando há cada 15 dias, dependendo da demanda de uso da solução nutritiva, até 18 dias, você economiza cerca de 69% de água, muito mais que no campo que utilizam a aspersão ou gotejamento”, relata.

 

Nos canteiros, a água circula 15 minutos pelo processo de bombeamento e “descansa” sem a presença da água por 15 minutos. É importante ressaltar que, para a planta se desenvolver bem, a temperatura da água precisa estar ideal, variando de 25ºC até (no máximo) 28ºC. “Em dias frios, a temperatura pode chegar até a 15ºC, porém é preciso aumentar o tempo de descanso”.

 

Ragonha ressalta também, que a hidroponia não é uma agricultura orgânica. Às vezes é necessário utilizar algum remédio ou produto químico para intervir em doenças nas raízes e nas folhas, como por exemplo, o pitio. “Essa é uma doença que dá nas raízes das hortaliças e não as deixa desenvolver corretamente. Com isso, é preciso acrescentar defensivos, apesar de que aqui na plantação, sempre optamos por outros métodos mais ‘biológicos’”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A hidroponia dispõe de um ambiente controlado. Esse fato traz a possibilidade de manipular as condições ambientais e diminuir os riscos de incidência de doenças e pragas e a partir disso não necessitar de produtos químicos que podem se tornar prejudiciais à saúde. “Podemos ter alimentos mais seguros se realmente o controle sanitário for adequadamente realizado assim como acontece nas plantações do campo”, comenta Mello.

 

 

 

 

INVESTIMENTO

 

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